Vida Nova, Novo emprego!

Dia 20 de Janeiro de 2008 fui contratada para trabalhar na mesma casa que a Dona Carmem trabalhou por 25 anos. Fui praticamente sua substituta. Ela me treinou, ensinou tudo o que ela sabia, explicou sobre a movimentação da casa, contou-me sobre cada um dos residentes naquele local (os donos), suas manias costumes, qualidades e até defeitos… ela conhecia cada fio de cabelo daquela família… Um mês depois ela se foi daquela casa para desfrutar sua aposentadoria…

No dia da contratação meu novo patrão e minha patroa me entrevistaram porque a dona Carmem deu ótimas referências. Acho que de cara gostaram de mim e pediram que no dia seguinte já trouxesse toda minha documentação para iniciar meu novo serviço.

No primeiro dia fui apresentada ao meu novo quarto. Tudo novinho, limpinho e cheiroso. Optei por morar no trabalho, por questões óbvias. A dona Carmem dormia lá apenas às segundas-feiras, pois ela tinha marido e filhos e precisava também dedicar-se ao seu lar. Quando entrei nele a primeira vez, fiquei muito emocionada, pois sabia que aquele cantinho era meu, só meu e não ia precisar dividir com ninguém. Tudo era especialmente branco naquele quarto: Minha cama, meu guarda-roupas, uma cômoda ao lado e um banheiro todo branquinho. O guarda roupas, muito espaçoso, cabia todas as minhas coisas e ainda sobrava. Dentro ainda havia um edredom para os dias de frio, um travesseiro e alguns lençóis e toalhas de banho para trocas.Tudo meu! rsrs… Bom, quando fui apresentada ao meu novo quarto minha própria patroa me disse que tudo naquele quarto era meu até quanto eu estivesse lá e tinha como dever conservá-los.

Dentre as minhas funções estava: acordar às 05hs para organizar o café da manhã para a família, até que a cozinheira chegasse (às 08hs), a partir daí realizar a limpeza e organização da casa, limpar os vidros das janelas 3 vezes por semana, lavar banheiros, entrar em contato com jardineiros e piscineiros (quando fosse preciso), cuidar para que todo o serviço de limpeza da casa estivesse dentro da perfeita ordem…Cuidar da alimentação dos cães da casa e por fim, o único cômodo da casa que não limpava era a cozinha…a mesma era de total responsabilidade da cozinheira, que a organizava e deixava a comida pronta.

Não vou dizer que sempre tive sonho de ser uma empregada doméstica, mas quando me ofereceram esse cargo era a oportunidade que tive de me livrar da minha tia e precisava de um ponto de partida para reiniciar minha vida. E porque não? Não vejo problema nenhum em ser empregada doméstica, aliás esse trabalho não é para qualquer um…

Crédito: noticias.universia.com.br

Crédito: noticias.universia.com.br

 

Sem meus Pais…

A tia Claudia nunca foi uma boa pessoa, mãe, muito menos uma boa tia. Sempre arrogante, dona da razão, impiedosa, muito rígida com os filhos e sobrinhos, rancorosa e ambiciosa, muito ambiciosa… só pensava em dinheiro e em ser rica. Tinha três filhos (um de cada pai), e nunca conseguiu um casamento sólido, feliz e muito menos um homem rico. As três gestações foram indesejadas, mas como o que importava para ela, era o dinheiro, a pensão alimentícia, casar-se era o de menos.

Morar na casa da tia Claudia não foi tarefa muito fácil, alias, foi uma prova muito difícil de passar, mas graças à minha irmã, que me ajudou incondicionalmente até minha definitiva recuperação.

Minha irma Maria começou a trabalhar como recepcionista de uma pequena imobiliária do Bairro que morávamos. Emprego conseguido por uma vizinha. Ainda tinha três anos de escola pela frente e meu maior sonho naquela época era completar 18 anos e sair daquela casa com minha irmã. Até que ela arranjou “o amor da vida dela” e foi embora, quer dizer, foi morar com ele. A Ana (a fugitiva rsrs), nunca mais tivemos notícias, depois que ficamos sabendo que ela havia ido morar no Rio de Janeiro com o namorado e três amigas. Meus irmãos gêmeos continuavam morando na mesma casa alugada por meu pai e estavam indo muito bem no trabalho, um deles já havia até sido promovido a supervisor em menos de 2 anos na empresa. Sempre que dava nos encontrávamos, foram os únicos que ainda não havia me abandonado.

Tive que aprender a caminhar com minhas próprias pernas. Não tinha apoio de ninguém, pelo contrário, minha tia só dificultava minha vida. Eu tinha que lavar, passar, cozinhar para todos, levar e buscar meus primos na escola, ser babá enquanto ela ia para as festas, não tinha tempo para me dedicar à minha escola então ela me deu duas opções: “ou a escola ou um teto!”… Optei pelo teto, já que não tinha para onde ir. Consegui pelo menos concluir o primeiro ano do ensino médio e definitivamente passei a ser sua empregada doméstica, quer dizer, sua escrava doméstica…

Um belo dia resolvi mudar (parece letra de música…rsrsrs), estava cansada daquela vida sofrida, sem amor, carinho, sem crescimento, aliás ela era minha tia, eu não havia feito nada para me odiar tanto, apesar de saber que ela odiava o Mundo e descontava todas as suas mazelas em mim… Dois anos depois, aos 17 anos fui morar com meus irmãos. Me aceitaram de braços abertos. Tia Claudia bem que tentou me levar de volta para casa mas meus irmãos à ameaçou procurar a justiça e denunciá-la por abandono de incapaz, já que sempre fugia à noite para as suas noitadas e deixava as crianças comigo…

Senti que minha vida estava começando a melhorar…

A volta e Tragédia

Como se não bastasse abandonar tudo o que meus pais já haviam conquistados na Capital, tivemos que passar por mais um problema que não estava programado. Meus irmãos, já maiores de idade e responsáveis por suas vidas (segundo eles), estavam gostando muito da independência e dos atrativos da cidade grandebateram o pé firme e não aceitaram voltar para Borá. SEndo assim, assumiriam o aluguel da casa e continuariam a trabalhar na fábrica. Minhas irmãs, tomaram uma atitude mais drástica: uma fugiu com um namorado que nem nós conhecíamos e a outra como no próximo mês já faria 18 anos, decidiu morar com a nossa tia, ajudando-a a cuidar da casa, e dos filhos da mesma.

Papai sofreu muito com essa divisão na família, foi muito difícil irmos embora deixando metade de nós em São Paulo.

Assim, pegamos o ônibus e voltamos para Borá… A partir daí só me lembro acordando em uma cama de hospital, entubada, os meus irmãos ao meu lado, chorando muito, minha mão esquerda muito ferida e minha perna engessada. Acordei dias depois….

Uma semana depois do acidente que levou embora meus amados pais, emfim, acordei. Me contaram tudo o que aconteceu: lembro que estava chovendo muito, o onibus derrapou na pista….e acordei no hospital uma semana depois. Meus pais e mais 20 pessoas não resistiram aos ferimentos. Não acreditei no que estavam me contando, pensei que era um sonho…queria que fosse um sonho, mas infelizmente eles se foram e me deixaram sozinha, abandonada, sem forças para continuar. Meus pais eram tudo para mim, mas Deus quis assim.

O acidente havia sido à quinze minutos de São Paulo e todos os envolvidos foram encaminhados para o hospital geral da cidade. Fiquei uns 15 dias por lá, e quando finalmente estava 60% recuperada, voltei para casa. Não para minha, mas para casa da minha tia. Não tinha para onde ir…era menor de idade…não podia ficar com meus irmãos, minha única opção era minha tia.

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